terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vôo

Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.

Tocou. Telefone tocou. Em poucos minutos estava sentada esperando alguém que anuncia o destino de várias pessoas. A conversa sempre começa com “infelizmente”. Sim, não queria saber qual o motivo do “infelizmente tá tá tá”; queria saber apenas conseqüência. Então, ele tatuou em mim a maior marca que carrego comigo.
Gritos! Houve gritos desesperados pedindo socorro. Ninguém ouvia. Apenas eu podia ouvir esta voz interna soando dentro de mim. Algo explodiu internamente e desapareceu definitivamente, sem surgir de novo e nunca mais até o presente momento.
Como uma droga que corre as veias de meu corpo, eu estava entorpecida. Não conseguia pensar. Estava numa liga eterna do que chamam de bad trip. E a minha sobriedade era tanta que tentava raciocinar de que não era possível que algo como este pudesse ter acontecido.
Minhas asas ainda não estavam prontas para voar. Eu estava de baixo das asas dele, voando e viajando com ele. Não podia perder minha base de apoio assim, do nado e sem que me dessem algo onde eu possa pisar e me sentir segura.
Depois disto, ainda entorpecida, vi o casulo que o envolvia. Ele não era o que acabara de vê, aquilo era somente uma forma, sem essência alguma. Uma ‘”coisa” quase comparada a mesma que chamam de matéria-prima. Bruta como a ignorância humana.
Quis desesperadamente morrer, pois dizem que quando se sonha com algo ruim, somente quando se morre no sonho é que acordamos. Queria morrer sim, para acordar logo. Percebi que esta seria uma escolha bem difícil, ou melhor, não teria oportunidade nem saco para tal. Tentei dormir, para ver se tudo se ajeitava quando acordasse. Não adiantou de nada. Somente nos sonhos é que tudo dava certo, onde tudo estava bem.
Passei então, a dormir sempre. E desejei muito dormi para sempre, pois só assim me sentia perto dele. E realmente estava; encontrávamos-nos todas as noites no mundo inteligível. Impressionante como nossos corpos estavam tão pertos e distantes ao mesmo tempo.
Com o tempo, aprendi a tê-lo sempre comigo. Sentia sua presença, sua asa, seu cheiro... Voltamos a voar juntos. Só que agora era diferente, eu não voava mais de baixo de sua asa. Aprendi a voar sozinha. É tão bom voar com ele, ao lado dele.

Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres,
as palavras voam.

Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós, em redor de nós as

palavras voam.
E às vezes pousam.¹

¹MEIRELES, Cecília. Melhores Poemas, Global Editora, 1984 - S. Paulo, Brasil.


Não podia começar meu primeiro post sem postar esse texto. Já que ele retrata uma experiência estética de minha vida, apesar de não ter sido nada boa. Mas ela reflete interiormente e externamente em mim. Não posso dizer que foi ou é nem muito menos que haverá somente o lado negativo disto. Há sim o lado positivo. E ele também reflete dentro de mim como uma luz de grande intensidade.

:)

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